quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"(...) Confesso, todos os dias recebo petições inúteis, deixei passar. Pensei que se tratava de salvar o actual Largo do Rato, uma das praças amaldiçoadas de Lisboa, que serve de entreposto e escoamento de trânsito e que foi tão maltratada que se entenderia o desejo de salvar o Rato do Rato."

- Clara Ferreira Alves, Jornalista

"(...) não quero mais destruição do património arquitectónico, através da especulação imobiliária ou da "criatividade" corporativa dos arquitectos, não só nas avenidas românticas, mas em toda a Lisboa. Isto implica Largo do Rato, Terreiro do Paço, etc, etc."

- António Sérgio Rosa de Carvalho, Historiador de Arquitectura

Concordo em absoluto que os transportes públicos são a melhor solução e seria "desastroso encher Lisboa de pontes e viadutos mas não é isso que a circular das colinas de que ouvi falar pretende. Eu penso que seria um túnel para salvar o Jardim da Estrela (quem discorda?) um outro para evitar o caos que o Rato é e um outro na zona de sapadores. Estamos a falar de uma via 2x2, com separador central arborizado e sem estacionamento lateral) e nada de auto-estradas que é muito necessária..."

- Lisboeta

"(...) É bom que alguém pegue finalmente no Largo do Rato, essa aberração descomunal, fruto do "engenho" de Krus Abecasis, que de um momento para o outro lhe acabou com a placa central, com as árvores, etc. "Negócio" feito a meias com o Metro e a Carris, um a fazer saídas e caixas de elevador onde não devia, outro a terminar indevidamente com o eléctrico. Do que o Rato precisa não é de monos, nem de especulação imobiliára pelo quarteirão da Fernandes adentro, mas sim de espaço público, árvores, recuperação do edificado (a começar pela obra de arte de Ventura Terra da Rua Alexandre Herculano, 77) e, sobretudo, remodelação completa da circulação, nem que para isso tenhamos que levar com uns anitos de obras."

- Paulo Ferrero, CidadaniaLX

...

Sobre o "Mono" do Rato


O Rato no site cidadaniaLx
in CidadaniaLX

"Especulação Imobiliária e Pouca Vergonha disse...
Neste país não fazemos respeitar o património urbano, nem a sua escala.
É inadmissível permitir construir naquele local um "pirolito" como se estivessemos numa zona nova da cidade. Não estamos. Estamos no Largo do Rato, que precisa de "reabilitação urbana". Não de especulação imobiliária como se se tratasse de Odivelas ou Amadora.
Onde estão as entidades oficiais a defender o interesse público a que estão obrigadas? Onde está o Instituto Português do Património Arquitectónico? Onde está a Ordem dos Arquitectos? E a Ordem dos Engenheiros?
O património urbano é de todos nós. Valorizar esse património tem vantagens para toda a sociedade e não apenas para os bolsos dos especuladores imobiliários que querem fazer de Lisboa apenas a sua coutada...
Aquele projecto não respeita parâmetros técnicos, nem éticos, nem tem idoneidade para com a envolvente, sendo a porta de entrada do Bairro Alto e da Baixa Bombalina.
Estourar com a escala do Rato é abrir a porta ao descalabro de toda a Baixa."

Anónimo disse...

"Assustador a incapacidade de comissões, grupos de trabalho de especialistas e técnicos para resolução de uma situação de remate urbano.
É absolutamente rídicula a necessidade de planos de pormenor ou urbanísticos, a solução do problema está no local.
O remate da esquina Av Alexandre Herculano com a Rua do Salitre pode constituir o paradigma da arquitectura contemporânea naquilo que ela tem de mais negativo (o constraste directo com a beleza será tão evidente que no dia em que estiver pronto já envelheceu).
O local deve ser visto como a porta urbana da cidade histórica, e a composição poderá realçar o fantastico chafariz de Carlos Mardel.
É também assustador as discusões inúteis as percas de tempo e de energia que este projecto tem revelado.
Preservar ou reabilitar ambientes urbanos são uma mais valia económica para toda uma cidade, demonstrativo de maturidade dos seus promotores como efectivos parceiros na reabilitação e requalificação da cidade de Lisboa."

terça-feira, 27 de outubro de 2009

26-10-2009 Arquitectos do prédio do Rato testam com a câmara "ligeiras alterações" ao projecto

Arquitectos do prédio do Rato testam com a câmara "ligeiras alterações" ao projecto

Por Inês Boaventura

A promotora do imóvel admite modificações "dentro do existente e não prejudicando a empresa" e pondera desistir do pedido de indemnização de 18 milhões feito a 11 vereadores

...

O administrador da promotora do controverso imóvel projectado pelos arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina para o Largo do Rato admite introduzir "ligeiras alterações" no projecto para que este seja licenciado pela Câmara de Lisboa, embora o considere "tecnicamente perfeito". Se essa aprovação for garantida, Diogo Jardim diz-se disposto a desistir dos pedidos de indemnização de cerca de 18 milhões de euros entregues em tribunal.

O administrador da sociedade de investimentos imobiliários Artepura adiantou ao PÚBLICO que os autores do projecto estão neste momento a realizar "exercícios teóricos" para perceber que modificações podem ser feitas "dentro do existente e não prejudicando a empresa". Diogo Jardim disse não saber quem tem sido o interlocutor dos arquitectos na autarquia, explicando apenas que aqueles exercícios estão a ser feitos "informalmente, com o executivo camarário", dentro de "um relacionamento nada político e muito técnico".

O objectivo é chegar a uma proposta "consensual", capaz de garantir que os vereadores não voltem a chumbar (como fizeram duas vezes em 2008) o deferimento da licença que permitiria avançar com a construção do imóvel desenhado para um gaveto do Largo do Rato, cujo projecto de arquitectura foi aprovado em 2005. "A pior solução do mundo é ter um projecto aprovado mas não licenciado e um processo em tribunal", resume Diogo Jardim, que não repudia fazer cedências por exemplo no que toca à altura do edifício, "desde que haja bom senso e ninguém seja prejudicado". Há cerca de uma semana, a mesma fonte tinha dito ao PÚBLICO que nem lhe passava pela cabeça alterar o projecto, mas agora a sua posição é outra. "Se me disserem que se alterarmos o projecto desta ou daquela forma ele é aprovado, eu apresento uma nova proposta", conclui o administrador da Artepura, manifestando, no entanto, a convicção de que tal dificilmente acontecerá a tempo da última reunião deste executivo camarário, que se realiza na quarta-feira. "Acho o prazo curtíssimo", confessa. A Artepura pediu no início do ano, em tribunal, indemnizações de mais de 1,6 milhões de euros a cada um dos 11 vereadores que rejeitaram o projecto.

Se a questão tiver que ser adiada para o próximo executivo camarário, o deferimento da licença continua a não estar garantido porque, apesar de António Costa ter nove dos 17 vereadores, dois deles (Helena Roseta e Sá Fernandes) votaram contra noutras ocasiões. O PSD, que em 2005 tinha aprovado o projecto, também se opôs ao deferimento da licença em 2008, mas nenhum dos eleitos do partido dessa altura vai continuar em funções. Quanto ao único vereador do PCP, o chumbo é praticamente certo, devido à inexistência desde sempre criticada de um plano de pormenor, instrumento cuja "conveniência de realização" foi também apontada pelo grupo de trabalho da Câmara de Lisboa que reapreciou processos deixados de fora pela sindicância aos serviços de urbanismo.

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, esclarecer com os arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina quais as alterações ao seu projecto que estão a ser equacionadas. Também o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, esteve indisponível para falar sobre o assunto.

Peão esquecido é o elo mais fraco da vida do Largo do Rato

Peão esquecido é o elo mais fraco da vida do Largo do Rato

09.11.2008, Inês Boaventura
Estudo sobre fluxos pedonais concluiu que o largo só se torna “realmente humano” em ocasiões específicas como manifestações
O Largo do Rato, em Lisboa, é “um lugar hostil e perigoso para o peão”, onde todos aqueles que não circulam em veículos motorizados foram afastados da parte central do largo e confinados às “zonas marginais” da praça e ao espaço privado dos pequenos comércios, que “tem vindo a tornar-se o único espaço de convivência possível”.
Estas são algumas das conclusões da pesquisa desenvolvida entre Setembro de 2006 e Setembro de 2007 pelo investigador francês Aymeric Böle-Richard, no âmbito de um doutoramento em antropologia social. O trabalho, que procura dar conta daquilo que significa ser peão numa praça de Lisboa definida como “um exemplo paradigmático da recente motorização da sociedade portuguesa”, deu origem ao livro Pedonalidade no Largo do Rato: Micropoderes, que será lançado na quarta-feira, numa edição da ACA-M (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados), paralelamente à realização do colóquio O Peão e a Cidade, no Goethe-Institut de Portugal, em Lisboa.
Para Böle-Richard, o objecto da sua pesquisa pode ser encarado “como um símbolo da situação rodoviária geral de Lisboa e, portanto, de um processo de alienação e delapidação da cidadania pedonal e do espaço dito ‘público’, em benefício de uma sociedade motorizada desigual e cada vez mais constrangedora”.
Itinerários impostos
O investigador defende que a “intensidade maciça do trânsito rodoviário” e o “agenciamento impositivo da mobilidade pedonal”, em que as guardas metálicas, os pilaretes e as passadeiras “impõem determinados itinerários ao peão”, foram os responsáveis pelo “processo centrípeto de afastamento do cidadão peão da parte central do largo”. O resultado, diz, é “a agonia lenta e dolorosa de um espaço que devia ficar um lugar público, isto é, de encontros, de diálogo e de vivência”.
Böle-Richard fala mesmo numa “inversão dos papéis entre espaço privado e espaço dito público”, já que o Largo do Rato passou de espaço de “convivência” a espaço de “atravessamento”, fazendo com que os estabelecimentos comerciais nas suas margens se tenham tornado “o único espaço de convivência possível, concentrando as sociabilidades mais ‘tradicionais’ de rua”. Actualmente, afirma, “para conviver, torna-se necessário entrar num café, numa loja, ou seja, em lugares privados que implicam o dispêndio de dinheiro, esquecendo a premência de utilizar o espaço público do Rato, dando-o desta forma, à partida, como perdido para o automóvel”.
Manifestação/metamorfose
Apesar desta realidade e de o largo se transformar num “local desertificado” aos fins-de-semana, “altura em que os tais espaços comerciais estão encerrados”, Böle-Richard sublinha que “de vez em quando ainda pode observar-se formas espontâneas de encontro e de ocupação cidadã do espaço público”. Como exemplo, o antropólogo aponta “a manifestação dos sindicatos do 2 de Março de 2007″, em que “durante cerca de uma hora e meia o largo metamorfoseou-se num espaço realmente humano”.
Mas Böle-Richard aponta ainda outros factores que contribuem para a hostilidade do Largo do Rato: “Poluição hedionda devido a emissões de CO2 e monóxido de carbono por parte do trânsito rodoviário; ausência de fonte pública de água; escassez de vegetação – o largo contabiliza apenas 18 pequenas árvores situadas em locais pouco frequentados pelos peões”. Em suma, diz o investigador, “o peão parece ter sido esquecido, enquanto elemento participante da vida do largo”.
Na sua pesquisa, o antropólogo procurou ainda observar as “relações de força” que se estabelecem entre os condutores e peões, tendo notado que os últimos “geram estratégias temporárias espontâneas de resistência relativamente ao poder impositivo do trânsito e da própria organização infra-estrutural do referido largo”. Isto acontece, por exemplo, quando o peão abandona o passeio e caminha pela estrada ou, como coloca Böle-Richard, quando este, “para retomar posse do espaço cívico que jamais devia ter deixado de ser seu, a rua, se atreve a abandonar as estruturas autoritárias que lhe estão destinadas”.
Para esta atitude dos peões contribuem, segundo o antropólogo, a ocupação dos passeios com estacionamentos abusivos, com lixo, obras e outros obstáculos, bem como o facto de alguns passeios serem demasiados estreitos para permitirem, por exemplo, a passagem de um carrinho de bebé ou de uma cadeira de rodas.
Gosto pelo risco
Outro problema apontado por Böle-Richard é o dos “semáforos pedonais com tempos de verde curtíssimos”, que “incentivam” o peão a atravessar com o vermelho.
Apesar disto, o investigador reconhece que algumas das “afrontas” dos peões ao Código da Estrada e à “sua própria segurança” se devem à “falta de civismo”. “Seja para atalhar uma trajectória ou para ganhar tempo, os peões revelam um gosto bastante pronunciado pelos comportamentos e percursos arriscados”, diz Böle-Richard, notando que estes comportamentos “caracterizam todas as faixas etárias e camadas da população”.
O medo de atravessar a estrada
O Largo do Rato é ou não um ponto negro na sinistralidade rodoviária da cidade?
O Largo do Rato só não é considerado um ponto negro na sinistralidade rodoviária em Lisboa – conceito que o antropólogo Aymeric Böle-Richard diz ser “contestável, segundo o ponto de vista do cidadão peão” – porque “o seu índice anual de mortalidade e de feridos graves registados no local não ultrapassa o limite daquilo que é politicamente aceitável”.
Mas a realidade é outra, sublinha Böle-Richard no seu estudo, quando constatou que nesta praça de Lisboa o peão “tem medo de atravessar a estrada, que também pensa duas vezes antes de sair de casa, que reduz propositadamente as suas deslocações no local e, pior ainda, porque abandona progressivamente o espaço cívico para se refugiar dentro de zonas comerciais, nos jardins dos arredores ou até em condomínios”.
Nesse sentido, uma das conclusões do trabalho do antropólogo é que “entre a situação real do Largo do Rato e o discurso oficial existe um abismo”. Böle-Richard acredita que isto acontece porque o último se baseia numa análise “apenas em termos de fluxos motorizados”, que não tem em conta “a realidade vivida pelos seus utentes”.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A Esperança

In Público (21/7/2009)
Inês Boaventura

«Câmara vai lançar concursos de arquitectura para a Praça de Espanha, Largo do Rato e mais cinco zonas da cidade nos próximos meses


O vereador Manuel Salgado anunciou ontem que a Câmara de Lisboa se prepara para lançar nos próximos meses sete concursos públicos de arquitectura, alguns dos quais em parceria com outras entidades. Entre eles está o do terminal de cruzeiros entre Santa Apolónia e o Jardim do Tabaco, que, ao contrário do que pretendia a anterior Administração do Porto de Lisboa (APL), não terá as valências de hotel e centro comercial.

O concurso do terminal de cruzeiros será provavelmente lançado em Setembro, em parceria com a APL, tal como um outro relativo à praça existente junto à Doca de Santo Amaro, que poderá ser lançado ainda este mês. Cai assim por terra o muito contestado projecto que previa para Santa Apolónia, além de uma gare marítima para cruzeiros, um hotel com dois pisos, uma área de escritórios, zonas comerciais e estacionamento.
Também segundo Manuel Salgado, e em parceria com a Frente Tejo, deverão avançar em Setembro os concursos públicos para a área entre o Campo das Cebolas e a Doca da Marinha e para o espaço público da zona monumental de Belém.
O vereador do Urbanismo revelou ainda que a autarquia "vai alterar completamente" o espaço público do Largo do Rato, que um estudo do investigador Aymeric Bole-Richard, divulgado pelo PÚBLICO em 2008, conclui ser "um lugar hostil e perigoso para o peão". Manuel Salgado corrobora esta visão e diz que quer que o peão passe a ser "rei" neste local.
Em Setembro, numa intenção que o autarca admite que poderá só ir avante no próximo mandato, deverá ser lançado o concurso para o centro de congressos da Praça de Espanha. Por fim, a câmara vai desafiar jovens arquitectos a desenvolverem um projecto para terrenos municipais de Pedroços, que inclua creche, biblioteca e zonas de habitação, mas também um núcleo de "habitação evolutiva, que possa crescer em função das necessidades das famílias".
À margem da apresentação de planos e estudos urbanísticos lançados neste mandato, Salgado admitiu que lhe causou "alguma surpresa" o recente anúncio da expansão do Metro a Loures. Isto porque, diz, num relatório preliminar apresentado pela transportadora em Junho esta obra não era "prioritária", ao contrário de outras, como o prolongamento da linha Verde a Carnide. O vereador considera que "a grande aposta" para os próximos anos não deve ser o metro convencional, mas sim uma rede de eléctricos rápidos de superfície, a implementar por exemplo em Alcântara»

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Novo Urbanismo

No novo Urbanismo, novos paradigmas se mostram verdadeiramente úteis. Na Sociedade Antiga imperava o discernimento e o comodismo aproveitador. É altura de renovar essa velha forma de observar o mundo e abrir novas fronteiras à Arquitectura e à forma como pensar a Cidade, a Cultura e a Tecnologia ao serviço de todos nós.

Um caso paradigmático na Cidade de Lisboa é o do Largo do Rato. Em pleno coração da cidade existe uma velha praça chamada de Largo. De largo hoje em dia tem muito pouco como podem observar nas fotos e como podem experimentar as largas centenas de lisboetas que por lá passam todos os dias.

Existe uma barreira nesta praça. A barreira é criada artificialmente pela presença de camadas de vias de circulação entre a cidade e as pessoas. Num largo que já foi presença importante e ponto de encontro entre a alta burguesia e os comerciantes de fino trato, hoje fica um lugar separado do seu próprio processo de importância.

Na década de 80, o presidente da câmara da altura, Nuno Cruz Abecasis, decidiu que a política de betão devia ser levada para junto dos residentes do centro de Lisboa. A feitura de uma verdadeira auto-estrada onde antes era um espaço público foi dessa política um exemplo extremo.

Serão destas circunstâncias de que a cidade é feita? Serão destes olhares pobres de que nasce e vibra a visão requalificadora para o espaço onde vivemos diariamente? Ou poderemos nós intervir neste espaço e criar a verdadeira cidadania? Criar um verdadeiro espírito de abertura entre o habitat e o homem?

Claramente exige iniciativa. Ainda existe esperança. Ainda existe uma nova de olhar as coisas. Temos de recuperar o Largo à sua antiga glória e fazer dele um local de passagem mas também de veraneio. Criar um nó unificador de toda a zona envolvente. Esta praça merece de novo o seu nome, pois se é um Largo, Largo terá de ser.

Devolvam o espaço perdido. Devolvam o Largo ao seu nome.

Salvem o Largo do Rato.